SIGNIFICADOS E EXPERIÊNCIAS DE ADOLESCENTES COM TEA SOBRE O PROCESSO DE TRANSIÇÃO INFÂNCIA-VIDA ADULTA: OLHAR DA FENOMENOLOGIA SOCIAL DE SCHUTZ
Transtorno do Espectro Autista, Adolescência, Fenomenologia, Saúde.
Este estudo objetivou compreender o significado atribuído às experiências vividas por adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no processo de transição da infância-vida adulta. Para tal, parte-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, com referencial teórico metodológico na fenomenologia social de Alfred Schutz. A pesquisa se desenvolveu na cidade de Mossoró, Rio Grande do Norte, e contou com grande apoio da Associação de Pais e Amigos dos Autistas e TDAH de Mossoró e Região (AMOR), no que tange a aproximação, contato e vínculo com a população de estudo. O primeiro grupo de participantes contou com adolescentes com idade entre 10 e 19 anos, diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista a pelo menos 1 ano. Já o segundo, foi composto por pais, mães ou responsáveis legais de adolescente – que esteja na faixa etária de 10 a 19 anos, diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista a pelo menos 01 ano. O procedimento de coleta de dados se deu através da entrevista qualitativa, do tipo semiestruturada, e ocorreu entre os meses de junho a setembro de 2025, em formato presencial, em local seguro, escolhido pelo participante. Elas foram audiogravadas, transcritas na íntegra e organizadas para análise posterior. A introdução ao processo de análise envolveu a aplicação da redução fenomenológica, também conhecida como epoché, onde a pesquisadora suspendeu seus próprios preconceitos e pressuposições para se concentrar nas experiências vividas pelos participantes. Em seguida, prosseguiram-se as fases identificação das unidades de significados, categorização concreta do vivido e por fim, foram interpretados a partir dos pressupostos de Alfred Schutz. Foram construídas três categorias, a saber: 1) O significado da adolescência: o processo de transição e redefinição do si; 2) Construção social da adolescência e a realidade vivida; e, 3) A experiência do ser adolescente com Transtorno do Espectro Autista. O estudo evidenciou três impasses centrais na experiência dos adolescentes com TEA ao adentrarem a adolescência. O primeiro é a sensação de não corresponder aos modelos de adolescente que lhes são apresentados. O segundo é o conflito entre seus próprios desejos e aquilo que acreditam que pais, professores e colegas esperam deles. O terceiro surge da dificuldade de enxergar um futuro claro, já que os tipos ideais são reconstruídos na perspectiva da neurodiversidade existente. As famílias também vivem um processo intenso. O diagnóstico leva a uma revisão das expectativas construídas ao longo dos anos e essas expectativas passam a ser renegociadas continuamente, especialmente no que se refere à autonomia, à vida escolar e ao futuro profissional. Mediante o exposto, o estudo ilumina obstáculos que não vêm do TEA em si, mas das estruturas que cercam os adolescentes. As reflexões produzidas reforçam a urgência de ambientes mais acolhedores e informados, considerando essencial a presença de profissionais preparados para ouvir, compreender e acolher, sobretudo no âmbito da enfermagem, pode contribuir para trajetórias mais inclusivas e mais respeitosas das singularidades desses jovens.