“A INFINITA BARBÁRIE DO EU”: A RECONCEITUAÇÃO DO ROMANCE INTIMISTA ENTRE AS DÉCADAS DE 1930 E 1960
Romance; Intimista; Representação; Geração de 1930; Crítica Literária.
A abordagem dos romances da Geração de 30 do modernismo nacional, vincula-se à divisão entre romances de temática social e intimista. Essa tradição da divisão (Bueno, 2006) está presente em quase todos os manuais de literatura do ensino superior e médio, tendo em vista que entre os críticos essa parece ser uma questão resolvida e obsoleta. A leitura criteriosa dos romances intimistas, entretanto, mostrou-nos a insustentabilidade de tal divisão, porque historicamente o romance, mesmo aquele pautado numa perspectiva centrada no escrutínio da realidade, como o originado no Realismo/Naturalismo, volta-se para o psicologismo, como forma de intensificar as subjetividades ou para ampliar os efeitos da realidade objetiva sobre os personagens. Críticos estrangeiros de renome como Auerbach (2004), Zéraffa (1974) e Watt (2010), que exploram o viés da representação a partir da análise sociológica do romance, não endossam essa divisão, pelo contrário, veem na conciliação dessas linhas um traço absolutamente natural do romanesco. Assim, nosso entendimento é de que mesmo no romance em que se privilegia uma dimensão mais tenaz dos aspectos psicológicos, marca das narrativas de introspecção, o componente social se presentifica, como se verifica, por exemplo, em tema ignorado no romance social e problematizado pelos intimistas, como a homoafetividade dos personagens, cravejado na ficção de Lúcio Cardoso e Octávio de Faria. Logo, advogamos o argumento de que há em nossa literatura, especialmente entre 1930 e o final dos anos 1950, época em que surgem obras de relevância como A Menina Morta e a Crônica da Casa Assassinada, um conjunto de romances de natureza híbrida, por isso, além dos dois romancistas citados, o corpus que analisaremos se completa com a ficção de Cornélio Penna, Cyro dos Anjos e Dyonélio Machado, de maneira que possamos extrair os componentes sociais existentes na narrativa intimista desses autores.