1. REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS DE LAMPIÃO E SEUS CANGACEIROS EM PROCESSOS CRIMINAIS: OS ATAQUES ÀS CIDADES DO RIO GRANDE DO NORTE EM 1927
1. PALAVRAS-CHAVE: Representação discursiva. Lampião. Grupo de Cangaceiros. Processos criminais. Alto Oeste Potiguar.
Nesta tese, objetivamos investigar como as representações discursivas se manifestam e atuam na construção dos sentidos dos depoimentos de vítimas colhidos nos processos criminais tramitados nas comarcas de Martins/RN e de Pau dos Ferros/RN contra Virgulino Ferreira, Lampião e seu grupo de cangaceiros, nas invasões ao Alto Oeste Potiguar, em 1927. Para tanto, buscamos fundamento teórico na Análise Textual dos Discursos (ATD), especificamente no nível semântico do texto, com destaque para a noção da Representação Discursiva (RD), estudada nesta tese a partir das categorias semânticas da referenciação, predicação, modificação e localização espacial e temporal. Por esse enquadramento teórico, elegemos os pressupostos de Cavalcante et. al (2013, 2017, 2019, 2022), Fávero e Koch (2000), Koch (1997, 2009) e Marcuschi (2012), no que diz respeito às discussões que perpassam o texto dentro da Linguística Textual. No que tange ao estudo da ATD, buscamos apoio em Adam (1996, 2005, 2011, 2019, 2024), Passeggi (2010), Rodrigues, Passeggi e Silva Neto (2010) e Queiroz (2013). Ademais, consideramos os estudos de Amossy (2016) e Maingueneau (2008), quanto às reflexões referentes à representação discursiva do locutor. No que tange à representação discursiva do interlocutor, respaldamo-nos em Amossy (2016) e Queiroz (2013). Por fim, apoiamo-nos em Passeggi (2001) e Queiroz (2013), no que diz respeito à representação discursiva do tema. Além disso, adotamos as discussões de Grize (1990, 1996), já que as categorias semânticas para o estudo da RD foram construídas com base na Teoria da Lógica Natural, sobretudo no conceito de esquematização. Metodologicamente, assumimos uma abordagem de pesquisa qualitativa, respaldada no processo misto de análise, em que se combinam o método dedutivo e indutivo. A pesquisa se caracteriza como documental, pela natureza do corpus de pesquisa, que é constituído por dezesseis depoimentos de vítimas dos processos judiciais das comarcas de Martins/RN e Pau dos Ferros/RN. Em nossos resultados, as representações discursivas construídas para Lampião foram de chefe dos cangaceiros, bandido e coator; e, para os cangaceiros, de grupo de bandoleiros, grupo facínoras, grupo de cangaceiros e grupo de bandidos. Essas representações revelam, semanticamente, a construção de imagens negativas tanto para Lampião quanto para seu grupo de cangaceiros. Outrossim, percebemos que existe uma organização relacional entre as representações discursivas de Lampião e do seu grupo, especificadamente que a Rd de Lampião chefe dos cangaceiros encontra-se em uma posição de superioridade em relação às demais, razão pela qual ela serve de base para a construção de todas as outras representações discursivas.