LIRISMO E RESISTÊNCIA EM VIDA E MORTE DE M. J. GONZAGA DE SÁ, DE LIMA BARRETO
Lima Barreto; Romance; Lirismo; Resistência; Modernidade.
Esta tese se propõe a investigar a dimensão lírica presente na obra Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá, de Lima Barreto. Apesar do viés militante a partir do qual o autor é normalmente associado, percebeu-se que as escolhas de linguagem realizadas no referido romance concorrem para uma potência expressiva na qual a contemplação lírica ganha papel primordial, não como atividade meramente passiva, e sim como decisão de estratégia singular para olhar o mundo. Na realidade, diante de uma sociedade, em muito, alienada, pautada pelo arrivismo ou as mais diversas práticas que supostamente sugerem determinada sofisticação de comportamento, as personagens centrais contemplam a natureza – em uma atitude de inclinações filosóficas em diversos momentos –, fazem uso da memória como instrumento de percepção do contraste histórico e social e meditam sobre os desdobramentos e contradições do que se vem a chamar de modernidade. Dessa maneira, o lirismo opera como um dispositivo que, dentro da edificação poética que suas imagens trazem, assinala uma postura de resistência ante o processo de coisificação da vida. A metodologia emprega na realização do trabalho consiste na análise do romance, considerando o conceito estético de lirismo e suas contribuições na observação de traços estilísticos ativadores desse procedimento literário. Além disso, notam-se ainda as reverberações dessa perspectiva criativa na dimensão ética, sobretudo no que diz respeito à resistência, aqui tomada como conceito passível de aplicação para o campo literário. Dentre as principais referências utilizadas estão Aguiar e Silva (1979), Kayser (1976), Paz (1996), Staiger (1975), Valéry (2018), Bachelard (1993) e Rosenfeld (2008) na abordagem sobre as bases do texto poético e a conceituação de lirismo; Adorno (2012) e Benjamin (1989) na discussão sobre lirismo e sociedade moderna; Berman (2007) e Bosi (2000,2002), tratando, respectivamente, da relação entre capitalismo e modernidade e da vinculação entre literatura, poesia e resistência. Sobre Lima Barreto, aspectos biográficos, estéticos e críticos na aproximação entre literatura e sociedade são observados em Barbosa (1987, 2003), Candido (1985, 1987), Lins (1976), Figueiredo (1998), Prado (1989), Proença (1974), Rodrigues (2013, 2024), Schwarcz (2017) e Sevcenko (1999).