Literatura de Viagem: A construção do Aracati oitocentista a partir de relatos de viajantes e naturalistas.
Relatos de Viagem. História Local. Naturalismo. Século XIX. Ciência.
A dissertação investiga as representações sobre a cidade de Aracati, no Ceará, a partir de relatos de viajantes estrangeiros e naturalistas do século XIX. Estruturada em três capítulos, a pesquisa propõe uma análise historiográfica crítica da literatura de viagem como fonte para a compreensão da construção de imaginários sociais, ambientais e urbanos sobre o Aracati oitocentista. No primeiro capítulo, é explorado o campo da literatura de viagem, situando-o no debate historiográfico e discutindo seus entrelaçamentos com a ficção e a realidade. Com base em autores como Mary Louise Pratt e Michel Foucault, o autor analisa como os relatos de viagem, embora revestidos de pretensões descritivas e científicas, são atravessados por subjetividades, intenções ideológicas e visões eurocêntricas. São abordadas também as origens desse tipo de literatura no Brasil e sua instrumentalização por projetos coloniais e imperiais. O segundo capítulo discute o naturalismo como ferramenta para a leitura da paisagem e das sociedades locais no século XIX. Ao analisar o papel dos naturalistas europeus e seus métodos de descrição e classificação da natureza, evidenciamos como essas práticas estavam imbricadas em projetos científicos e econômicos vinculados ao expansionismo europeu. O Aracati, nesse contexto, é interpretado como espaço de observação científica e de apropriação simbólica, onde a paisagem natural e os grupos humanos foram descritos sob a ótica da ciência ocidental. No terceiro capítulo, a pesquisa se debruça especificamente sobre os relatos de viajantes como Henry Koster, George Gardner, Francisco Freire Alemão e outros que visitaram ou escreveram sobre o Aracati. A partir desses registros, são analisadas as representações sobre a cidade, sua paisagem urbana, atividades econômicas, práticas culturais e organização social. O capítulo evidencia as tensões entre a visão estrangeira e a realidade local, bem como a persistência de estereótipos de “atraso” e “progresso” nas descrições dos viajantes. Ao final, a dissertação propõe o uso pedagógico desses relatos como instrumentos de valorização e ressignificação da história local no Ensino de História. Assim, a dissertação objetiva contribuir não apenas para o campo da historiografia regional e da história intelectual, mas também para o debate sobre fontes históricas e as possibilidades de trabalhar a história local na escola a partir de fontes narrativas e documentais.