SEXUALIDADE TRANSGRESSORA E O GÓTICO QUEER NA ADAPTAÇÃO DE CHRISTABEL, DE S. T. COLERIDGE
Adaptação cinematográfica. Tradução intersemiótica. Gótico queer. Sexualidade dissidente. Religiosidade.
Este trabalho investiga como a adaptação cinematográfica Christabel (2018), dirigida por
Alex Levy-Heller, traduz simbolicamente elementos do poema homônimo escrito por
Samuel Taylor Coleridge em 1816. A proposta parte da compreensão da adaptação como
um gesto tradutório intersemiótico, que não busca equivalência literal com a obra de
origem, mas sim a tradução crítica de seus sentidos em um novo contexto sociocultural,
estético e afetivo. Ambientado no cerrado brasileiro contemporâneo, o filme atualiza e
reconfigura os signos do poema vitoriano, mobilizando recursos visuais, sonoros e
narrativos para tratar de temas como repressão feminina, religiosidade e sexualidade
dissidente. O estudo ancora-se na perspectiva do gótico queer, explorando como o desejo
e a transgressão são figurados por meio de atmosferas ambíguas, corpos limiares e
simbologias visuais que escapam às normatividades de gênero e sexualidade. A
metodologia adotada é qualitativa, com enfoque analítico-dissertativo, permitindo a
leitura das escolhas estéticas do filme como estratégias discursivas que ressignificam as
tensões presentes na obra literária. A pesquisa também considera o papel do cinema
enquanto meio de reconfiguração poética e política, analisando como o deslocamento de
linguagem e de contexto permite novas formas de enunciação sobre o corpo, o desejo e a
religiosidade. O poema é compreendido como um texto marcado pela ambiguidade e pelo
não-dito, em que a relação entre as personagens Christabel e Geraldine é sugerida de
modo velado. Já o filme explicita essa relação por meio de signos visuais e sensoriais,
enfatizando os afetos queer e os mecanismos simbólicos de opressão. Ao tratar dessas
questões, o trabalho dialoga com campos como os estudos da tradução, da literatura
gótica, da crítica feminista e das teorias queer, propondo uma articulação entre estética e
política a partir da análise da adaptação. A pesquisa contribui, assim, para o
aprofundamento dos debates sobre representação e dissidência, demonstrando como a
linguagem audiovisual pode operar como instrumento de transgressão e tradução crítica
de narrativas advindas da tradição literária ocidental.