EXPERIÊNCIAS DE ALFABETIZAÇÃO NA PANDEMIA DE COVID-19 VIVIDAS E NARRADAS POR PROFESSORES E CRIANÇAS DE UMA ESCOLA DO CAMPO
Alfabetização. Educação do Campo. Ensino Remoto Emergencial.
Esta pesquisa tem como objeto de estudo as experiências de crianças e professores sobre o processo de alfabetização nos anos iniciais do ensino fundamental, no contexto de uma escola do campo, durante o Ensino Remoto Emergencial na pandemia de Covid – 19. Para isso, analisamos as narrativas das crianças e dos docentes sobre esse processo por eles vivenciado entre os anos de 2020/2021. A pesquisa é guiada pela seguinte problemática: como ocorreu o processo de alfabetização das crianças das zonas rurais durante o Ensino Remoto Emergencial? O objetivo geral da pesquisa é compreender como se deu o processo de alfabetização das crianças das turmas de 1º e 2º anos de uma escola do campo do município de Serrinha dos Pintos/RN. O objetivo geral se desdobra nos seguintes objetivos específicos: analisar as perspectivas das crianças e dos professores alfabetizadores sobre o processo alfabetização no contexto do ERE; conhecer as metodologias utilizadas pelos educadores para a alfabetização nas turmas de 1º e 2º anos da escola campo de pesquisa; identificar quais as concepções que os sujeitos investigados possuem sobre a escola e discutir os impactos do ERE nas interações entre alunos, professores e famílias. Logo, esta pesquisa PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO www.uern.br se justifica pela necessidade de conhecimento dos impactos causados pela pandemia de Covid-19 na educação básica, especialmente, na alfabetização de crianças que vivem no campo, levando em consideração as infâncias próprias do espaço rural, suas identidades e formas de se relacionar com a escola e com o lugar onde vivem. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, e se insere nos pressupostos teóricos e metodológicos da pesquisa (auto)biográfica em educação, tendo como base as contribuições teóricas de Passeggi e Souza (2017); Passeggi, Nascimento e Oliveira (2016); Nascimento (2018); Ferrarotti (2014); Delory-Momberger (2012); Finger (2014); e Nóvoa (2014). Para a produção dos dados, utilizamos a metodologia das rodas de conversa, cujas narrativas das crianças e dos docentes constituíram os dados empíricos do estudo, sendo analisadas pela Análise Temática (AT) proposta por Jovchelovitch e Bauer (2014). O referencial teórico é pautado nas discussões sobre alfabetização, Educação do Campo e infâncias do campo, mediante as ideias e concepções de autores que são referência nas áreas. No âmbito da alfabetização, os principais autores utilizados são Soares (1995; 2003; 2004; 2023); Ferreiro e Teberosky (1999); Mortatti (2006); Kramer (2019); Colello (2004); Piaget (1972); Vygotsky (1987); e Kleimam (2005; 2010). As discussões sobre Educação do Campo serão pautadas no pensamento de alguns dos principais autores da área, tais como Caldart (2012;2005;2004); Arroyo (2005); Freire (1994); Fernandes (2005) e Bicalho (2017). Os resultados das narrativas dos sujeitos revelam que o processo de alfabetização vivenciado por crianças e professores das escolas do campo foi permeado por entraves históricos, políticos e socioeconômicos preexistentes à pandemia. Tais fatores condicionaram o acesso às aulas remotas e a todo o processo de ensino-aprendizagem. Entre eles, compreendemos que a falta de acesso às tecnologias e à conectividade impactou o acompanhamento das aulas online, somado à dificuldade dos docentes na adaptação da prática pedagógica ao formato remoto e a ausência da interação presencial entre professores e alunos, contribuiu para a exclusão educacional de muitas crianças e para a desfasagem na aprendizagem da leitura e da escrita. Além disso, a transposição do ensino presencial para o ensino remoto acabou por reproduzir práticas tradicionais de trabalho com a leitura e a escrita, baseadas nos princípios dos antigos métodos sintéticos de alfabetização. Além disso, evidenciou-se que as famílias foram indispensáveis na mediação das atividades, ao substituírem a atuação do professor, algo que teve impactos positivos e negativos na alfabetização das crianças. Portanto, acreditamos que este trabalho traz contribuições significativas para a construção do conhecimento científico sobre o processo de alfabetização de crianças nas escolas rurais, em um período tão complexo e inesperado como foi a pandemia da Covid-19, integrando as discussões já existentes no âmbito acadêmico e fornecendo dados e informações relevantes para se pensar as necessidades enfrentadas pela educação básica do campo no contexto brasileiro.