Redes referenciais e argumentação em colunas de opinião assinadas
Referenciação. Redes referenciais. Argumentação. Colunas de opinião assinadas.
Este trabalho objetiva analisar a construção de redes referenciais e sua relação com a
argumentação em colunas de opinião assinadas. De forma mais específica, pretendemos: Identificar os
referentes mais salientes nas colunas selecionadas; Descrever a (re)construção dos referentes
identificados; Examinar os tipos de relação que os referentes (re)construídos mantêm entre si na formação
das redes referenciais em destaque nas colunas; Relacionar a construção das redes referenciais com a
argumentação desenvolvida nas colunas. Para isso, filiamo-nos ao quadro teórico da Linguística Textual,
enfatizando a interface entre ela e a Teoria da Argumentação no Discurso (AMOSSY, 2020), cujo
princípio básico é o de que a argumentação é uma dimensão constitutiva do discurso. Para nos situarmos
nesse diálogo, seguimos o caminho traçado por Macedo (2018) e Cavalcante et al. (2020), autores que
têm demonstrado como esse contato teórico pode ser estabelecido. A estratégia de textualização que nos
propomos investigar é a referenciação e, para isso, seguimos os fundamentos básicos assentados por
Mondada e Dubois (2003), os desdobramos apontados por Custódio Filho (2011) e a noção de redes
referenciais, cunhada e desenvolvida por Matos (2018). O corpus da pesquisa se constitui de seis colunas
de opinião assinadas, todas elas coletadas do jornal Folha de São Paulo. A coluna de opinião assinada, que
abordamos com base em Alves Filho (2005), é um gênero jornalístico caracteristicamente opinativo por
meio do qual os jornalistas expressam seus posicionamentos acerca de acontecimentos relevantes para a
sociedade. Do ponto de vista metodológico, destacamos a utilização do método dedutivo, uma vez que
partimos do geral (quadro teórico da LT) para o particular (as colunas que compõem o corpus), e de uma
abordagem qualitativa, focada em descrever, explicar e interpretar a relação entre redes referenciais e
argumentação nos dados analisados. Os resultados deste trabalho demonstram que os referentes são
(re)construídos na dinâmica textual completa das colunas de opinião assinadas analisadas, considerando-
se, para tanto: expressões referenciais, predicações, adjetivações, aspectos cognitivos (em especial, as
inferências), dados contextuais e – queremos enfatizar – as múltiplas relações que os referentes mantêm
entre si, de modo a formar as redes referenciais que compõem o texto. Quanto à argumentação, verificou-
se que as redes referenciais são construídas nas colunas sempre na tentativa de influenciar os leitores,
buscando fazê-los aderir aos posicionamentos defendidos pelos colunistas. Considerando a natureza
opinativa do gênero coluna de opinião assinada, salientou-se que os colunistas têm a liberdade de
reconfigurar os referentes de maneira a recobri-los de traços explicitamente avaliativos. De tudo isso,
conclui-se que a noção de redes referenciais é um avanço fundamental nas pesquisas em referenciação,
pois permite abordar a (re)elaboração de referentes de forma cada vez mais complexa e sofisticada. Além
disso, demonstrou-se a produtividade do diálogo entre a Linguística Textual e a Teoria da Argumentação
no Discurso.