AS COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS NA CONSTITUIÇÃO DO DISPOSITIVO ESCOLAR CONTEMPORÂNEO: DISCURSO, PSICOPOLÍTICA E MODOS DE SUBJETIVAÇÃO NO PROJETO DE VIDA DO NOVO ENSINO MÉDIO
Discurso; Dispositivo; Novo Ensino médio; Projeto de Vida; Competências socioemocionais; Jovem.
Em virtude das demandas (e inconstâncias) do mercado neoliberal, a formação de sujeitos cada vez mais adaptáveis, resilientes e protagonistas tem-se tornado a tônica deste sistema. Para isso, a necessidade de preparação não só do corpo físico, mas, também, do constructo psicológico tornou-se uma das principais práticas de intervenção. Assim, para melhor atender a tais necessidades, a instituição escolar (e o dispositivo a ela concernente) vem passando por algumas reformulações com vistas a produzir e aperfeiçoar os corpos sob moldes específicos, tendo como estratégia principal o investimento nos sujeitos jovens. Um exemplo disso em terras brasileiras é a inclusão das competências socioemocionais nas (re)formulações do Novo Ensino Médio – NEM mediante o eixo do Projeto de Vida – PV. Ao considerar que essa reforma tem por objetivo normatizar, governar e subjetivar os corpos, os comportamentos e as mentes dos sujeitos jovens em prol das dinâmicas socioeconômicas acima citadas, toma-se como tese a ideia de que o NEM se porta como a própria atualização contemporânea do dispositivo escolar, de forma que a abordagem das competências socioemocionais no Projeto de Vida -PV se configura a pedra angular desta transformação. Em busca de compreender estas transmutações, as quais são recentes e singulares no dispositivo escolar brasileiro, esta pesquisa tem como objetivo geral investigar as estratégias psicopolíticas e os modos de subjetivação mobilizados no PV para a regulamentação psicossocial e trabalhista do sujeito jovem no dispositivo do NEM. Em específico, pretendeu-se: (a) mapear e delinear as condições de emergência dos discursos e saberes que englobam as competências socioemocionais no dispositivo em questão; (b) compreender o processo de regulamentação das competências socioemocionais no PV enquanto estratégia psicopolítica juvenil no interior do dispositivo escolar por intermédio do PV; (c) identificar e problematizar, a partir das enunciações das posições sujeito abarcados pelo dispositivo, os modos de subjetivação e as resistências arrolados pelo PV. Teórico-metodologicamente, a pesquisa está ancorada nos estudos discursivos foucaultianos, bem como nas leituras de Illouz (2007), Han (2020), Laval (2019), Sibilia (2012), Deluiz (2001) e Abed (2014), de maneira a elencar como corpus trinta materialidades. Este último, por sua vez, arrola o arquivo discursivo sobre a reforma do NEM e, principalmente, os discursos que emolduram as competências socioemocionais no PV. Diante as materialidades analisadas, compreendemos que o PV se constitui como uma estratégia biopolítica – ou psicopolítica, nos termos de Han (2020) – tática do dispositivo escolar do NEM, que busca a lapidação precoce das habilidades e competências socioemocionais dos jovens com vistas a potencializar a aprendizagem, a produtividade e a utilidade dos sujeitos em meio as incertezas do cenário socioeconômico. Assim, munindo-se dos discursos sobre as competências socioemocionais, as ações do PV no seio escolar, eventualmente, normatizam condutas e produzem subjetividades mentalmente fortalecidas desde cedo, as quais, nos dizeres de Laval (2019), devem ser potentes e igualmente flexíveis e resilientes, aptas a lidarem e se reinventarem diante das instabilidades do mercado de trabalho contemporâneo.