VOZES SILENCIADAS E CORPOS CONTROLADOS: UMA ANÁLISE BIOPOLÍTICA DAS PEÇAS O RATO NO MURO E AS AVES DA NOITE DE HILDA HILST
Hilda Hilst; teatro brasileiro; repressão; biopolítica; silenciamento.
Hilda Hilst foi uma das escritoras mais versáteis e provocativas da literatura brasileira, transitando entre poesia, prosa e teatro, abordando questões profundas sobre a condição humana, de modo geral. Sua obra teatral, especialmente em tempos de repressão política no Brasil, serviu como uma forma de resistência e denúncia das estruturas opressoras da sociedade. As peças O Rato no Muro e As Aves da Noite, respectivamente escritas em 1967 e 1968, constituem o corpus deste trabalho e ilustram como o poder estabelecido exerce controle sobre os corpos e silencia as vozes, destacando-se como exemplos de uma literatura engajada que utiliza a linguagem dramatúrgica para abordar questões de biopolítica e necropolítica. Nesse contexto, a análise dessas obras oferece uma oportunidade valiosa para se refletir sobre os impactos das práticas repressivas no âmbito social e cultural. Ao conectar a experiência histórica brasileira às discussões teóricas contemporâneas sobre biopolítica e necropolítica, este estudo ressalta a importância do teatro como veículo para a crítica social e a resistência artística. Isso também permite revisitar a produção de Hilst sob uma ótica que evidencie sua relevância enquanto voz feminina em um período marcado pelo autoritarismo. Assim sendo, este trabalho tem como objetivo geral analisar, à luz da biopolítica e necropolítica, como as peças O Rato no Muro e As Aves da Noite de Hilda Hilst retratam a repressão, o controle dos corpos e o silenciamento das vozes em tempos de repressão política no Brasil. Como objetivos específicos, se propõe a discutir a contribuição de Hilda Hilst como uma voz feminina no teatro brasileiro, com enfoque na crítica social e na denúncia contra regimes repressivos; investigar a representação de corpos disciplinados e vozes silenciadas nas peças O Rato no Muro e As Aves da Noite, destacando os mecanismos de controle e repressão; e relacionar os conceitos de biopolítica e necropolítica à análise do controle dos corpos e da subjetividade nas referidas obras teatrais de Hilda Hilst. Como metodologia foi utilizada a pesquisa bibliográfica qualitativa, norteada, sobretudo, em uma ótica foucaultiana, ao discutir-se as noções de (bio)poder, disciplina e controle. Para isso, o aporte teórico de Althusser (1996), Ball (2008), Cunha (2017), Foucault (1996; 1999; 2007), Jacomel (2008), Magaldi (1998), Mbembe (2018), Orlandi (2007), Pallottini (2015), Pascolati (2009), Pavis (1999), Prado (2000), Rodrigues (2010), Rosenfeld (1969), Ubersfeld (2013), Waldman (2012), entre outros, constitui-se como essenciais às discussões. A análise dessas obras é relevante porque permite compreender como o teatro brasileiro, por meio da voz singular de Hilda Hilst, denuncia e reflete as dinâmicas de poder e dominação em períodos de repressão política. Além disso, o estudo contribui para o debate sobre o papel da arte na exposição e questionamento de práticas que disciplinam corpos e silenciam vozes, oferecendo uma perspectiva crítica essencial para entender os efeitos do controle biopolítico e necropolítico na sociedade.