Paródia, alienação e gozo em Branca de Neve, de Donald Barthelme
Branca de Neve; Paródia; Alienação; Gozo; Donald Barthelme.
A tensão entre subjetividade e objetividade constitui uma das marcas centrais da modernidade, desde Descartes. Na paródia, essa tensão manifesta-se na dinâmica alienada entre forma e conteúdo, que simultaneamente aproxima e distancia estética e tema. Esta tese investiga, através da análise do romance Branca de Neve (1996), de Donald Barthelme, como a paródia, ao tensionar as relações entre forma e conteúdo, entre tradição e ruptura, torna-se capaz de representar (e eventualmente suprassumir) formas de alienação típicas da sociedade do capitalismo tardio, aproximando conceitualmente paródia e alienação, e concebendo-a como plataforma possível para a suprassunção da alienação ao instituí-la como base para um mais-gozar estético possível. A alienação, longe de representar apenas um desvio a ser superado, constituiria-se como uma condição estruturante da subjetividade moderna e da própria experiência estética. Primeiramente, investigam-se os efeitos estéticos da colagem, da ironia e do “não-saber” como recursos paródicos, com base em Molesworth (1982), Hutcheon (1985) e Rose (1979; 1993); em seguida, analisam-se as representações das personagens centrais (Bill, Paul e Branca de Neve) como figuras alienadas, com base em Marx (2010), Lukács (2009; 2018), Honneth (2018) e Adorno (2008; 2020); por fim, articulam-se teoricamente os conceitos de alienação, desejo e gozo à prática literária de Barthelme, com base em Freud (2010), Jaeggi (2010), iek (2008; 2024), McGowan (2024), Safatle (2020), entre outros. Conclui-se que Branca de Neve, ao operar uma paródia crítica do conto de fadas tradicional, evidencia o caráter constitutivo da alienação nas formas culturais e subjetivas contemporâneas. Mais do que oferecer uma saída para a alienação, o romance expõe sua inevitabilidade estrutural e sua função estética, produzindo, por meio da paródia, um espaço de desautomatização e de crítica às formas hegemônicas de simbolização da realidade.