"Comecei do zero”: a governamentalidade neoliberal e o sujeito empresário de si na ordem discursiva da revista Acontece RN
Governamentalidade. Neoliberalismo. Discurso Empresarial.
Esta pesquisa analisa os efeitos de sentidos no discurso sobre o sujeito empresário, materializados nos enunciados de nove capas da revista “Acontece RN”, com ênfase na racionalidade neoliberal e seus modos de subjetivação e governamentalidade. O intuito central da tese é examinar três eixos principais: (i) mapear as condições históricas que possibilitaram a emergência de narrativas de sucesso empresarial expressas nas capas da referida revista em três núcleos distintos; (ii) investigar o papel da mídia enquanto agente normativo e de visibilidade que orienta e governa as performances empreendedoras; e (iii) explorar as conexões entre a alta performance empresarial e os mecanismos da governamentalidade neoliberal, que operam tanto na gestão dos corpos quanto na autogestão dos indivíduos. O estudo apoia-se teoricamente em conceitos fundamentais do pensamento foucaultiano, como discurso, enunciado, arquivo, saber, poder, subjetividade, dispositivo e governamentalidade neoliberal, que formam a base do arcabouço analítico desta pesquisa. Diálogos com autores como Deleuze (1992; 1996), Sennett (2006), Dardot e Laval (2016), Han (2015; 2018), bem como Safatle, Silva Júnior e Dunker (2020), também são fundamentais para o aprofundamento teórico. Do ponto de vista metodológico, a pesquisa insere-se nos estudos discursivos inspirados em Michel Foucault, mais especificamente através do método arqueogenealógico. Trata-se de uma investigação de natureza qualitativa, com caráter descritivo-interpretativo e fundamentada na análise documental. O corpus empírico é composto por nove capas da revista Acontece RN. As análises indicam a presença de estratégias de regulação e disciplinamento das condutas empresariais, com ênfase nas competências socioemocionais e técnico-comportamentais valorizadas no atual cenário biopolítico. Tais estratégias contribuem para a formação de um sujeito empresarial flexível, resiliente e emocionalmente preparado para lidar com adversidades. Identificam-se, ainda, mecanismos de governo que operam sobre os corpos para induzir processos de (auto)subjetivação alinhados às exigências contemporâneas de produtividade, competitividade e desempenho. Os enunciados verbo-visuais presentes nas capas da revista funcionam como dispositivos de saber-poder, disseminando discursos e construindo vontades de verdades que orientam modos de ser, agir e mostrar-se no universo corporativo. Esses dispositivos acionam tecnologias de governamento que buscam moldar sujeitos ajustáveis às lógicas do mercado neoliberal, atuando preventivamente sobre tudo aquilo que possa comprometer a eficiência do capital humano. Conclui-se que tais mecanismos operam como estratégias sofisticadas de reconfiguração subjetiva, forjando perfis empresariais afinados com as exigências de adaptação permanente impostas pela racionalidade neoliberal.