CORPO EM DISCURSO: A (NÃO) ASSUNÇÃO DA RESPONSABILIDADE ENUNCIATIVA EM NARRATIVAS DE INFLUENCIADORES SOBRE EMAGRECIMENTO NO INSTAGRAM
análise textual dos discursos; responsabilidade enunciativa; posturas enunciativas; corpo; emagrecimento.
A valorização da aparência corporal tem se consolidado como marca social significativa na contemporaneidade, intensificada pela influência das redes sociais. Nesse cenário, os discursos sobre o emagrecimento emergem como eixo central na atuação de influenciadores digitais de áreas distintas, que defendem o corpo magro não apenas como resultado da perda de peso, mas como expressão de um estilo de vida socialmente aceito e respeitado. Visando explorar o assunto, este trabalho objetiva investigar como é assinalada no fio do dizer a (não)assunção da responsabilidade enunciativa nos discursos de influenciadores digitais sobre estilo de vida/emagrecimento definitivo no Instagram. Especificamente, pretendemos: (i) descrever as marcas linguísticas sinalizadoras da (não) assunção da responsabilidade enunciativa nos discursos de influenciadores sobre estilo de vida/emagrecimento definitivo no Instagram (ii) identificar as vozes que são mobilizadas pelos locutores enunciadores primeiros na construção desses discursos; (iii) analisar as posturas enunciativas empregadas pelos locutores enunciadores primeiros no gerenciamento dos pontos de vista alheios nos discursos sobre estilo de vida/emagrecimento definitivo; e (iv) interpretar os sentidos evidenciados a partir do gerenciamento de vozes alheias nos discursos em questão. Utilizamos as contribuições teóricas da análise textual dos discursos com enfoque no fenômeno da responsabilidade enunciativa (Adam, 2011, 2017, 2024); articulado com as posturas enunciativas (Rabatel, 2016a, 2016b); em diálogo com a análise do discurso digital (Paveau, 2022), entre outros. O corpus é composto por 6 (seis) reels do Instagram, produzidos por 3 (três) influenciadores digitais: @karlapaiva.bari, @gutogalamba, @mairacardi, e 29 comentários referentes às respectivas publicações, selecionados por mobilizarem diferentes regimes de autoridade: experiencial, científico e moral na produção de discursos voltados ao emagrecimento e à promoção de estilo de vida. Os resultados parciais indicam que os discursos analisados mobilizam os regimes de legitimidade: experiencial, científico e moral na construção de autoridade discursiva. Observamos uma oscilação na responsabilidade enunciativa, ora assumida pelo locutor enunciador primeiro (influenciadores), ora deslocada para vozes de autoridade externas (ciência, religião, filosofia) e compartilhada com os seguidores por meio dos comentários. A interação no espaço digital tende a configurar uma coconstrução discursiva em que os interlocutores validam, contestam ou ressignificam os pontos de vista dos influenciadores, instaurando movimentos de concordância, discordância e reinterpretação. Por fim, ressaltamos que este estudo evidencia a heterogeneidade constitutiva dos discursos digitais e contribui para a reflexão sobre os modos como os sentidos acerca do corpo, da saúde e do emagrecimento circulam e se transformam no espaço interativo do Instagram.