O humor sarcástico e o pós-modernismo na obra Cama de gato, de Kurt Vonnegut
Sarcasmo; Cama de Gato; Pós-modernismo; Kurt Vonnegut.
As concepções contemporâneas de sociedade incorporam conceitos fundamentais que, segundo Hersey (1998), derivam da busca coletiva por romper com a imagem sacra da filosofia e da arte. A desvinculação dessas áreas do ideal religioso no século XVIII desencadeou uma busca fragmentária por novos saberes, colocando o homem no centro dos debates sociais. O que hoje compreendemos como Modernidade nasce desse movimento, que aspirava à coexistência entre o progresso e um futuro coletivamente próspero, com novos contornos com a escalada da indústria no início do século XX encontrando nas artes a expressão vanguardista do Modernismo. Nas décadas de 1950, e com maior elaboração entre os anos 1960 e 1970, essa fragmentação torna-se mais evidente. A estabilidade que sustentava a modernidade e, por consequência, o modernismo, começa a ser questionada após a explosão da bomba atômica em Hiroshima, expandindo-se da arquitetura para a filosofia e as artes (Jameson, 2006). Desse processo emerge o Pós-modernismo, movimento artístico- filosófico marcado pela tentativa de compreender o presente por meio da reelaboração de signos do passado. Na literatura, essa fragmentação se manifesta em obras que questionam os limites do real e as metanarrativas (Lyotard, 2000). O presente trabalho, influenciado por tais perspectivas, dedica-se à análise de Cama de Gato (1963), de Kurt Vonnegut Jr., autor associado à primeira geração pós- modernista. Com o objetivo de examinar as imagens satíricas construídas pelo narrador, bem como as constrições presentes na obra, discutindo a função do sarcasmo no texto, mobilizamos os escritos de Jameson (2006), Hersey (1998), Hall (2005) e Lyotard (2000), no que se refere à caracterização do pós-modernismo e suas relações com a pós-modernidade; de Munro (1988), Eagleton (2020), Kant (1970), Freud (2010) e Hobbes (1998), no que concerne ao humor e seu papel social; além de Haiman (1998) e Kreuz (2020), no estudo das diferenças entre ironia e sarcasmo.