O imaginário mítico no sertão de Guimarães Rosa: um estudo de quatro contos.
João Guimarães Rosa. Contos. Mito. Sertão.
O mito é um assunto que pertence a um extenso campo do saber e tem despertado, desde os tempos mais remotos até a contemporaneidade, o interesse de estudiosos de diversas áreas do conhecimento. Na literatura de Guimarães Rosa, o mito impulsiona importantes questionamentos para o entendimento da poética do autor e ainda que muitos estudos tenham iluminado parte relevante da representação mítica na contística rosiana, algumas narrativas ainda permanecem à margem das análises. Isso se explica, em parte, pelo fato de na ampla fortuna crítica de Rosa haver uma predileção pelo direcionamento do estudo do mito para o Grande Sertão: Veredas, obra célebre e único romance do escritor. Nessa perspectiva, é nessa lacuna que esta tese se insere. Desse modo, elegemos para esse estudo uma amostra das coletâneas – Sagarana a Estas estórias –, em que buscamos ampliar o escopo da crítica literária, focando em contos que se desenrolam a partir da (re)encenação de uma série de mitos. Considerando isso, objetivamos, nesta tese, realizar uma leitura crítica de quatro contos de Guimarães Rosa, a saber: “Corpo fechado”, de Sagarana (1946); “A menina de lá”, de Primeiras estórias (1962); “Arroio das Antas”, de Tutaméia: terceiras estórias (1967); e “Meu tio o iauaretê”, de Estas estórias (1969), dando ênfase à análise do mito e seus aspectos correlatos, destacando a identificação das apropriações metafóricas do mito no imaginário do Sertão rosiano e, a discussão de como a mitificação e mistificação são expressos na representação dos personagens. A priori, realizamos uma análise individual dos contos e, posteriormente, o estudo comparado a fim de observar convergências e/ou divergências. Para esse intuito, consideramos fundamentais os estudos de Eliade (1972; 1991; 1992; 2022), Campbell (1991; 1997), Cavalcanti (2008), Freund (2008), dentre outros estudiosos que nortearão a discussão sobre as teorias do mito. Também são pertinentes as contribuições de Galvão (1978; 2000; 2006), Coutinho (1991; 1995), Rónai (1991; 2005), Nunes (2009; 1998), sobre as noções do mito e seus aspectos correlatos na ficção rosiana, e as perspectivas de Candido (1989; 1991), Martins (1994), Fantini (2003) e Bosi (1994) sobre a prosa poética de Guimarães Rosa. Optamos pelo estudo comparado como recurso metodológico, entendendo-o como ferramenta capaz de evidenciar convergências e divergências entre os contos, além de justificar o recorte adotado e marcar a originalidade da pesquisa. A partir da abordagem comparativa, constatamos o mito como uma temática expressiva para a compreensão da literatura rosiana, especialmente as metáforas relacionadas a noção do mito no imaginário do Sertão rosiano, a mitificação e mistificação na representação do homem do sertão e a vinculação de elementos míticos, religiosos e ideológicos na caracterização da poética rosiana.