DOMINAÇÃO MASCULINA E VIOLÊNCIA; DORORIDADE E RESILIÊNCIA: Estupro e agressões na vivência do casamento pelas personagens de Conceição Evaristo.
Violência Doméstica; Abuso intrafamiliar; Casamento; Mulheres Negras
Considerando que mulheres foram, talvez, uma das primeiras minorias a serem oprimidas e dominadas socialmente por razões hoje questionáveis, é necessário estabelecer uma busca histórica e social do percurso transcorrido pela civilização, das suas primeiras estruturas até as atuais, afim de entender de que forma tal dominação se originou e fora naturalizada até o ponto em que presenciamos hoje. Debruçamo-nos, portanto, a analisar o poder retido por tantos séculos nas mãos dos homens, um poder que se originava no patriarcalismo, mas que o transpassara, tornando-se um “poder do macho”, e do qual se ergueram as relações sociais de gênero desequilibradas, de dominação e posse de uns sobre outras, que vão se arrastar nas estruturas familiares e em contratos sociais, além de nas relações sexuais. Salientando estas observações, nos debruçamos a tentar entender como as relações de gênero – desequilibradas – se tornavam um dos pilares das relações intrafamiliares violentas; como as violências, sobretudo sexuais, se tornaram “naturais” entre homens e mulheres, especialmente na instituição do casamento, e de que forma as mesmas dominações de gênero tornam permissíveis que patriarcas abusem tanto de esposas quanto, também, dos próprios filhos, considerando, é claro, que o poder do “macho” se torna uma sólida junção de todos os poderes instituídos socialmente aos homens em todas as suas ocupações: como marido, como pai, como sujeito. Assim, portanto, nosso objeto de pesquisa se constitui de três personagens femininas negras, de Conceição Evaristo, das quais duas – Aramides Florença e Lia Gabriel – vivenciaram, em suas narrativas, experiências de violências físicas e sexuais cometidas por seus companheiros, e uma – Shirley Paixão – a vivência do abuso sexual incestuoso cometido por seu companheiro contra sua filha adotiva. Ainda, se possível, tentaremos estabelecer nuances de Dororidade (PIEDADE, 2017) experienciadas ou não pelas personagens no transcorrer das narrativas; para tanto, resgatando o conceito de Dororidade que se constitui de empatia e compaixão entre mulheres negras através da compreensão ou entendimento das dores que as afligem. A pesquisa, portanto, se constitui de uma revisão bibliográfica, amparada nas teorias de Saffioti (2015; 1999; 1987); Pateman (1993); Lerner (2019), entre outros. Os resultados parciais alcançados previamente apontam que a separação entre mulheres/vítimas e maridos/agressores propicia uma melhor qualidade de vida tanto para as matriarcas quanto para os (as) filhos (as).