Aquilombamentos e as mulheres do fim do mundo em Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves e Eu, Tituba, feiticeira...negra de Salém, de Maryse Condé
Aquilombamentos. Identidades femininas. Diásporas. Ancestralidades. Interseccionalidades
Esta tese tem como tema as mulheres africanas e afrodescendentes e suas ações de aquilombamento no contexto escravagista. A expressão fim do mundo refere-se às condições de violência enfrentadas por essas identidades e como elas se insurgiram diante das opressões. Compreende-se como aquilombamento, toda resposta contra a opressão colonial que se desenha a partir da continuidade cultural que ocorreu após processos diaspóricos e que se constituem a partir da ligação com a ancestralidade. Para isso, definiu-se como objetivo geral analisar as expressões de aquilombamentos
manifestadas nos romances Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves, e, Eu, Tituba, feiticeira...negra de Salém, de Maryse Condé, e suas relações com os conceitos de feminismo no Sul Global. Alguns conceitos norteadores como colonialidade e decolonialidade, diásporas e identidades, cosmovisões africanas e interseccionalidades serão bases teóricas para este trabalho. Os métodos utilizados foram o aprofundamento teórico e a análise comparativa que consiste em comprovar ou não a relação entre teorias e romances que perfazem o corpus, destacando, ainda, as semelhanças e diferenças entre as experiências aquilombadoras nas referidas narrativas. Até o momento, verificou-se que há semelhanças entre os contextos em que a escravidão se configura como sistema, ou seja, é manifestada como justificativa para opressão colonial. As diásporas se configuraram em condições diferentes, mas pautadas na circunstância opressiva da escravidão, alguns pontos apresentaram semelhanças, principalmente no que diz respeito às suas repercussões nas ressignificações das identidades. Em relação às cosmovisões africanas expressas por meio das ligações com a natureza e ancestralidade, constatou-se que os aquilombamentos aconteceram de modo coletivo, mas também individual, perfazendo a ideia de corpo-quilombo. Em relação as interseccionalidades, espera-se que o entrecruzamento das categorias interseccionais que considerem as peculiaridades inerentes às mulheres africanas e afrodescendentes diasporizadas tragam informações mais precisas em relação ao papel da literatura e dessas mulheres na construção da história, assim como reforçar a ideia de feminismo negro, como temática imprescindível para o desenvolvimento de reflexões que preencham as lacunas sociais e históricas que excluíram as mulheres negras enquanto sujeitos dignos.