POLÍTICA DE SAÚDE DO HOMEM NO SEMIÁRIDO: UM ESTUDO DE CASO NO CONTEXTO DAS DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS
Política de Saúde. Atenção Básica. Saúde do homem. Doença crônica
No que tange às Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), estas representam as mais sérias causas de óbitos no mundo. O aumento da expectativa de vida masculina reflete uma melhoria na atenção aos níveis de morbimortalidade, embora ainda se observe uma atenção insuficiente desse público com relação à própria saúde. A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) tem como objetivo promover melhores condições de saúde para a população masculina em todo o território brasileiro. Este estudo teve como objetivo geral avaliar a implementação da política de saúde do homem no contexto das DCNT em um município de pequeno porte do semiárido. Para alcançar tal propósito, adotou-se uma abordagem metodológica descritiva, com delineamento de estudo de caso e metodologia mista. A pesquisa foi conduzida em um município de pequeno porte do estado do Ceará, pertencente à região de saúde do Cariri, abrangendo quatro unidades de Estratégia Saúde da Família (ESF), sendo três localizadas na zona rural e uma na zona urbana. A população do estudo foi composta por 134 homens com diagnóstico de alguma DCNT, com idades entre 20 e 59 anos, e por 29 profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS), totalizando 163 participantes. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas com os pacientes masculinos, previamente cadastrados no PEC/E-SUS (Prontuário Eletrônico do Cidadão). Utilizaram-se como instrumentos de coleta um questionário semiestruturado, o WHOQOL-bref e o Instrumento de Avaliação da Atenção Primária (PCATool), com foco no atributo acessibilidade. Os profissionais da APS também participaram por meio de entrevistas semiestruturadas. A análise dos dados quantitativos foi realizada com inferência estatística convencional, enquanto os dados qualitativos foram analisados com base no método de análise de conteúdo de Laurence Bardin. A integração dos dados seguiu o modelo de triangulação concomitante. Os resultados sociodemográficos indicaram que a faixa etária com maior acometimento por DCNT foi a de 53 a 59 anos. Verificou-se que 85,8% dos participantes sobrevivem com renda mensal de até um salário mínimo, o que pode estar associado ao fato de que 91,8% não possuem emprego formal. Quanto à escolaridade, mais da metade (56%) não concluiu o ensino fundamental, sendo significativa a taxa de analfabetismo. Em relação ao estado civil, 71,6% dos entrevistados são comprometidos e têm dependentes. As DCNT mais prevalentes foram a hipertensão arterial sistêmica (HAS), presente em 82,8% dos casos, e o diabetes mellitus tipo 2, com 28,4%. Na avaliação da qualidade de vida (QV) pelo WHOQOL-bref, observou-se correlação inversamente proporcional entre a pontuação total e as variáveis idade, jornada de trabalho, número de diagnósticos e número de medicamentos. Por outro lado, houve correlação diretamente proporcional com a renda, com valor de p < 0,05. A avaliação da acessibilidade à APS, conforme o PCATool, não apresentou associação estatisticamente significativa entre as classificações nas áreas urbana e rural. Contudo, observou-se associação significativa com a faixa etária dos participantes (p = 0,043). Na análise com os profissionais da APS, identificou-se um desconhecimento generalizado quanto à proposta de integralidade do cuidado voltado aos homens, conforme preconizado pela PNAISH. As considerações finais indicam que é de suma importância que os gestores incentivem e invistam na capacitação dos profissionais da saúde, visando à efetivação contínua da política e ao fortalecimento do envolvimento da população masculina nos serviços da Atenção Primária. Conclui-se que o itinerário metodológico adotado foi adequado para responder aos objetivos propostos pela pesquisa.