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Depoimentos
A experiência no PROF-FILO contribuiu pra que eu, de certa forma, revisse minha concepção acerca do ensino de filosofia e minha própria prática em sala de aula, isso pelo menos em dois pontos principais, descritos adiante.
Primeiro: passei a tentar identificar a percepção sobre o que é filosofia para cada filósofo abordado, para tentar perceber como essa concepção de filosofia se expressa em seus escritos. Eu sei que isso parece óbvio, mas sinceramente eu nunca tinha parado para analisar isso, porque não julgava isso essencial. Hoje vejo que cada reflexão filosófica é pressuposta por uma concepção de filosofia que sustenta, influencia e integra a atitude e as produções do filósofo, e que a identificação dessa filosofia subjacente em cada autor facilitaria a compreensão e a análise das suas ideias, conceitos e obras. Só passei a ver a importância disso durante as discussões do PROF-FILO. E que isso também se aplica a mim como docente. Antes do PROF-FILO, não me perguntava se minha percepção do que é filosofia (claro que essa resposta não é definitiva, nós a podemos ir desenvolvendo durante a prática e durante o contato e aprofundamento com as teorias e métodos de outros filósofos) transparecia em minhas aulas, e para tentar promover essa comunicação (entre o que eu penso ser filosofia e o que eu produzo - seja aula ou não) estou reformulando muitas das aulas/atividades/avaliações que faço.
Segundo: atualmente eu trabalho mais com textos, e vejo que isso aumentou a participação e a compreensão de parte da turma (claro que, infelizmente, não posso dizer que a maioria da turma lê e discute os textos em sala. Em média, eu diria que aproximadamente 1/4 de cada turma traz dúvidas e participa mais ativamente e com frequência das discussões. Pode até ser que um pouco mais do que isso leia os textos, mas não participa por timidez. Contudo, parece-me que a maioria só faz as leituras na véspera das avaliações escritas ou quando eu as cobro em seminários. Mesmo quando eu proponho algumas perguntas como estudo dirigido, a maior parcela da turma só as responde se eu der alguma pontuação). Em todo caso, noto que eles interagem e participam mais da aula quando disponibilizo um texto previamente (produzido por mim ou retirado de livros do próprio autor estudado ou de seus comentadores, ou ainda de um verbete de um dicionário especializado - dicionário de filosofia, dicionário temático - uso um dicionário de política, por exemplo, ou um dicionário dedicado exclusivamente aos conceitos de determinado filósofo), e junto com ele envio algumas perguntas acerca de conceitos/ideias/argumentos centrais, pois esse foi um fato apontado pelos participantes da minha pesquisa como algo que contribuiu para compreensão e exame dos escritos analisados. Eu costumava fazer o contrário: só disponibilizava o texto depois de concluir a discussão sobre o filósofo/tema. E justificava isso, a mim mesmo, pelo argumento de que a maioria não ia ler (o que de fato ocorre), porém, durante a pesquisa no PROF-FILO percebi que a compreensão e a discussão se desenvolve melhor quando eu disponibilizo o texto base antes de debater o tema/conceito. E mesmo que a maioria da turma não leia e discuta, há quem o faça, e isso aumentou a participação nas aulas e até a qualidade das discussões. Sei que seria fácil de resolver esse problema se eu passasse a dar pontuação para todas as leituras, porém acho que isso a tornaria "forçada". No entanto, penso que esse expediente talvez afastasse ainda mais o interesse do discente.
Prof. Rodolfo Rodrigues Medeiros - IFRN/Campus Caicó
Egresso do PROF-FILO (Turma 2018-2020)