EXPERIÊNCIAS COM O ENSINO REMOTO NARRADAS POR PROFESSORAS DE ESCOLAS DO CAMPO
Educação do Campo. Saberes docentes. Narrativas docentes. Ensino remoto.
A luta por uma educação no e do campo é contínua, e o avanço nas políticas e na legislação não garantem, por si, a resolução dos problemas que a educação no e do campo vivencia historicamente. Diante da situação de invisibilidade histórica na efetivação das políticas públicas, o processo de ensino-aprendizagem nas escolas do campo é prejudicado pela falta de infraestrutura básica para o desenvolvimento das atividades escolares, o que se agravou na situação emergencial vivida em função da pandemia do novo Coronavírus. Nesta pesquisa, focamos nossa atenção nos desafios enfrentados na educação do campo pelas professoras durante a pandemia da Covid-19, para se adaptar de forma intempestiva ao modelo de ensino remoto, para construir novos saberes e práticas como respostas e soluções aos desafios e dificuldades tanto para a prática de ensino quanto para a aprendizagem dos alunos. Nesse contexto, desenvolveram novos saberes com o uso das tecnologias da informação e da comunicação aplicadas ao ensino, que apresentaram potencialidades que poderão contribuir para a melhoria dos processos de ensino-aprendizagem da educação no e do campo. Esta pesquisa foi realizada com professoras de escolas do campo de duas cidades da região do Alto Oeste Potiguar, e buscou responder à pergunta: Que saberes docentes foram apropriados, modificados e mobilizados pelas professoras das escolas do campo de Rafael Fernandes/RN e Pau dos Ferros/RN durante o ensino remoto? Teve como objetivo geral: analisar os saberes apropriados, modificados e mobilizados pelos docentes que atuaram na Educação do Campo nas cidades de Pau dos Ferros – RN e Rafael Fernandes – RN, durante o período de ensino remoto. Caracteriza-se pela abordagem de pesquisa qualitativa, adotando a pesquisa (auto)biográfica e rodas de conversa como metodologia para a construção das narrativas das professoras, de forma que pudessem narrar, refletir e dialogar sobre suas experiências vivenciadas no período de ensino remoto em escolas do campo. Para fundamentar a realização da pesquisa e as reflexões em torno do objeto de estudo, tomamos como principais referenciais teóricos: Tardif (2014), Libâneo (2014), Almeida, Santos e Silva, (2020), Arroyo e Fernandes (1999), Arroyo, Caldart e Molina (2011), Freire (2015), Zibetti e Souza (2007), Charlot (2000), Tardif e Raymond (2000), Delory-Momberger (2008), Nóvoa e Fringer (2014), Nascimento (2010), Nascimento (2018), Passeggi (2008), Josso (2004), Souza (2012). Para análise dos dados, utilizamos a análise de conteúdo de Bardin (2011). Os dados revelam que se a dificuldade de infraestrutura já era uma realidade nas escolas do campo, essa foi ainda mais evidenciada quando docentes e discentes das escolas do campo se viram na necessidade de desenvolver o ensino remoto, e muitos não tinham sequer os equipamentos e infraestruturas tecnológicas exigidos. Para além da aquisição dos equipamentos e tecnologias requeridas ao ensino remoto, as professoras precisaram desenvolver novos saberes no uso dessas tecnologias, aprendendo a utilizar as TICs no desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, mesmo sem que a elas fosse ofertada formação e apoio pedagógico para isso. Nesse contexto, a organização das turmas em salas multisseriadas se tornou ainda mais desafiadora para as professoras no ensino remoto. A pesquisa conclui, deixando em aberto uma problemática identificada no decorrer das análises, que sugere a necessidade de investigar os impactos negativos do ensino remoto na aprendizagem dos alunos da educação do campo, pois, conforme evidenciaram as narrativas das professoras, muitos alunos não tiveram condições de acesso às aulas remotas e nem devolviam as apostilas impressas que recebiam para desenvolver as habilidades e competências referentes a cada série escolar. Por fim, esta pesquisa contribui com a construção de um panorama das experiências vividas por professores da educação do campo no ensino remoto durante a pandemia da Covid-19.